quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Série: Ano Litúrgico


A Dinâmica do Tempo da Quaresma e da Páscoa
(Pe. Marcelo Fróes – Liturgista)

Queridos irmãos,

A liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Em volta deste núcleo fundamental da nossa fé, celebramos o Ano Litúrgico que foi se organizado para manter viva a memória do Ressuscitado na vida de cada pessoa e de cada comunidade.

O Ano Litúrgico “revela todo o mistério de Cristo no decorrer do ano, desde a encarnação e nascimento até à ascensão, ao pentecostes e à expectativa da feliz esperança da vinda do Senhor” (SC 102).

O Ano Litúrgico não tem começo nem fim. Ele é tanto “fim” quanto “começo”.

Neste artigo vamos trabalhar a dinâmica do tempo da quaresma e da páscoa.

Tempo da Quaresma

É o tempo de retomar o caminho do evangelho, tempo de reavivar o primeiro amor e, nos preparar para a renovação das promessas batismais na Vigília Pascal. É tempo de renovação,de conversão,de “morte ao pecado”,para que possamos ressurgir para uma vida nova com Cristo na sua Páscoa.

 Dinamismo do tempo da quaresma:

 A quaresma inicia na quarta feira de cinzas e vai até a missa da Ceia do Senhor com a qual se inicia o tríduo pascal.
 São 40 dias em que somos convidados a viver o mistério de Jesus no deserto, na oração pessoal e comunitária, escutando a palavra de Deus, deixando que purifique a nossa fé e nos afaste de tudo o que nos impede de viver a radicalidade do discipulado.
 Também o povo de Deus fez esta experiência de deserto para na terra prometida.

 Tempo de jejum:

Apresentado nas Escrituras e na tradição das comunidades como gesto da liberdade dos filhos e filhas de Deus e como sinal da espera vigilante do Senhor. Sinal de um caminho de “verdadeira conversão”.

 Tempo de caridade – No Brasil a cada ano a CF nos convida a um gesto concreto, para contribuir com a nossa parte na construção de um mundo mais justo e fraterno, como Deus sonhou para seus filhos e filhas.
Ter amor e compaixão, abrir o coração para os irmãos necessitados, excluídos, injustiçados...

O ano “C”, com textos de Lucas, coloca em relevo a misericórdia de Deus e o convite para acolhê-la. A conversão do coração. Duas leituras do AT – tratam do tema batismal da profissão de fé. (Quaresma penitencial).
Nos três anos (A,B,C), a primeira leitura conta os grandes momentos da história da salvação e da caminhada do povo eleito: a criação e o pecado do homem; vocação de abraão, o sacrifício de Isaac, a vocação de Moisés para libertar o povo, o dom da água no deserto, a entrega da Lei; a unção de Davi; a promessa da volta do exílio feita pelos profetas; a páscoa na terra prometida e a ressurreição do povo.

 Lembretes, sugestões:

. Neste tempo não se canta o glória e o aleluia.
. Salmos característicos da quaresma:
51(50), 91(90);
. Outros cantos:
. Clama em alta voz...,
. Como raiar, raiar do dia...,
. Dizei aos cativos...,
. Eis o tempo de conversão...,
. Eu vim para que todos tenham vida...,

A cor litúrgica é o roxo. O espaço da celebração fica mais despojado, sem flores (menos no quarto domingo).
. Não se canta o glória, nem o aleluia. Os instrumentos musicais ficam reservados apenas para acompanhamento dos cantos litúrgicos.
. O que predomina é o silêncio, como um convite à oração.
. O ato penitencial pode receber um destaque maior como anúncio da misericórdia de Deus. Pode ser enriquecido com o rito de aspersão da água recordando o nosso batismo.
. A cruz ganha destaque. Pode entrar na procissão de entrada todos os domingos. As celebrações da penitência e da via-sacra ocupam um lugar importante neste tempo.

Durante a liturgia quaresmal, as leituras bíblicas, cânticos e orações, gestos e silêncios ressoam em nós como convite à conversão.
Fazendo memória da salvação que já se realizou em cristo pelo batismo, somos chamados/as a perceber o que nos falta para viver de acordo com essa salvação.
As imagens que aparecem na liturgia quaresmal falam de renascer, o que implica morrer à maneira do grão de trigo que para dar fruto terá que morrer no chão.
Por isso, a cruz é o segredo do amo que se torna capaz de dar a vida.O amor,a qualquer preço,é um testemunho capaz de gerar a vida.

 Ciclo de leituras para o tempo da quaresma – Ano C:
1º domingo - Lc 4,1-13 - Tentação de Jesus - Cristo vence agora e vencerá depois.
2º domingo - Lc 9,28b-36 - A transfiguração de Jesus - Seu “êxodo” para a glorificação.
3º domingo - Lc 13,1-9 - As vítimas das catástrofes - Necessidade de conversão.
4º domingo - Lc 15,1-3.11-32 - A alegria do Pai na volta do filho pródigo.
5º domingo - Jo 8,1-11 - A mulher pecadora - A misericórdia do Pai.


O Tríduo Pascal

O sagrado Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição resplandece como ápice de todo o ano litúrgico. Portanto, a solenidade da Páscoa goza no ano litúrgico a mesma culminância do domingo em relação à semana.
A Vigília Pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou, seja considerada a “mãe de todas as vigílias”, na qual a Igreja espera, velando, a ressurreição de Cristo, e a celebra nos sacramentos.
A vigília é o ponto alto do ano litúrgico.


Tempo da Páscoa

50 dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, “como um grande domingo”.

Os domingos deste tempo são chamados, depois do domingo da Ressurreição, de II, III, IV, V, VI e VII domingos da Páscoa. O domingo de Pentecostes encerra este tempo sagrado de cinqüenta dias.

Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a Oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor.

No quadragésimo dia depois da Páscoa celebra-se a Ascensão do Senhor. No entanto, no Brasil ela é transferida para o domingo seguinte, ocupando assim o VII domingo de Páscoa

As férias depois da Ascensão, até o sábado antes de Pentecostes inclusive, constituem uma preparação para a vinda do Espírito Santo Paráclito.

O Tempo Pascal, na liturgia, é fortemente marcado pela espiritualidade joanina, por ser
o evangelho de João considerado como “evangelho pascal”. Assim, aos domingos, com exceção do da Ascensão, o evangelho é de João, como será de João o evangelho dos dias de semana, exceto alguns dias da oitava da Páscoa, notando-se também que o evangelho de João já vinha sendo lido desde a quarta semana da Quaresma, nos dias de semana.
Além disso, para todos os domingos do Tempo Pascal, a segunda leitura será: para o ano A, a predominância de 1Pd; para o ano B, a predominância de 1Jo; e para o ano C, a predominância do Apocalipse.
Já a primeira leitura do Tempo Pascal é sempre dos Atos dos Apóstolos, confirmando o antigo uso então afirmado por São João Crisóstomo e por Santo Agostinho, e isto se observa tanto para aos domingos como para os dias de semana. Podemos dizer que na primeira leitura do Tempo Pascal, a Igreja conta e ouve a história de si mesma nos seus primórdios, como elemento edificante para a sua própria edificação.

Fontes:

- BERGAMINI, Augusto. CRISTO, FESTA DA IGREJA. O Ano Litúrgico, São Paulo:Paulinas, 1994.
-BUYST Ione, PREPARANDO A PÁSCOA. QUARESMA, TRÍDUO PASCAL, TEMPO PASCAL, Vozes: Petrópolis 1991.
-NOCENT Adrien, "A Quaresma", in: Matias Augé [et al.], O Ano Litúrgico: história, teologia e celebração ( Anámnesis 5), Paulinas, São Paulo 1991.