segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Espiritualidade do Leigo


Novena de Natal: uma Liturgia numa experiência de Fé!



Quando escutamos dizer que “o melhor das festas é a preparação”, podemos entender que estão falando daquele “gasto de tempo” necessário para se fazê-las acontecer. Quem já pôde juntar-se aos grupos de pastorais e movimentos para participar da preparação de suas novenas, aniversários de comunidades, festas de padroeiros e outros; sabe que para este povo, o corriqueiro ato de unir-se para pensar os detalhes, para preparar as rezas e celebrações, já é de certa maneira sentir a festa acontecendo. Podemos até dizer mais: “o melhor da festa é a vida que ela contém, desde sua preparação até sua comemoração”.

A novena de Natal vem carregada deste cuidado espiritual e comunitário, para bem preparar essa festa surgida no ambiente cristão a partir do século IV, e que se tornou para nós tão importante. Com certeza o Natal mexe profundamente com nossas vidas, por isso, reservamos aqueles nove dias que antecedem à FESTA (como muitas pessoas, especialmente do interior do Brasil se referem ao Natal, simplesmente chamando-o assim), para celebrarmos com mais gosto e desejo a vinda do GRANDE DIA DO SENHOR (Cf.: Is 2,12; Am 5,18; Zc 14, 1).

Esta prática popularizou-se bastante, fortalecendo os laços fraternos que ligam grupos e comunidades, servindo não só para manter viva a força simbólica do Tempo do Natal, mas também para recordar a toda Igreja, que a vida litúrgica dos que crêem em Cristo, suas festas e devoções, só tem verdadeiro sentido enquanto celebra a vida latente do mundo, seus gritos por saúde, justiça social e espiritual, cuidados maternais e paternais com a ecologia criada por Deus e mais, suas alegrias e vitórias a partir de lutas que são travadas para libertarem o ser humano de todo tipo de escravidão. Não podemos esquecer que a novena deve ligar o mistério de Cristo ao mistério da vida que nos rodeia, sem ilusões e alienações, mas assumindo profeticamente a chegada do reino de Deus, que requer a nossa mudança de atitudes (Mc 1, 15).

No entanto é fundamental que a vivência desta novena preparada para a Festa do Natal do Senhor, não seja a sua celebração antecipada. Não sirva para construir no coração e na mente de quem dela participa, uma festa de Natal antes da hora, fazendo até com que muitas pessoas encham esta novena de tanto brilho, a ponto de deixarem de celebrar com a comunidade a festa tão desejada, o Natal, sua oitava e seu tempo próprio de vivência até o domingo do Batismo do Senhor. Às vezes, estes “noveneiros”, por este tipo de atitude, acabam não percebendo que estão de certa maneira invertendo o verdadeiro sentido para o qual esta novena foi criada: o de desejar mais intensamente a vinda do Senhor.

Sobre o sentido das novenas, o ‘Diretório Sobre Piedade Popular e Liturgia’, da Congregação para o Culto Divino, diz no nº 103: “A novena do Natal surgiu para comunicar aos fiéis as riquezas de uma Liturgia à qual eles não tinham fácil acesso. A novena de Natal de fato exerceu uma função salutar e ainda pode continuar a exercê-la. Entretanto, em nosso tempo, no qual ficou mais fácil a participação do povo nas celebrações litúrgicas, é desejável que entre os dias 17 a 23 de dezembro a celebração das Vésperas ganhe caráter solene, com as “antífonas maiores”, e os fieis sejam convidados a participar delas. Tal celebração, antes ou depois da qual poderão ser valorizados alguns elementos caros à piedade popular, constituiria uma excelente “novena de Natal” plenamente litúrgica e atenta às exigências da piedade popular. Dentro da celebração das Vésperas podem ser desenvolvidos alguns elementos já previstos (por exemplo, homilia, uso do incenso, adaptação das intercessões.” Por isso, se faz necessário que as equipes de liturgia das dioceses, paróquias e comunidades, dêem mais importância ao sentido, teologia e ritualidade que esta novena carrega.

A participação das famílias, que se colocam à disposição de Deus e dos irmãos que as visitam, para rezarem, cantarem, escutarem a santa Palavra, é um aspecto muito positivo nas novenas. Por isso, não se deve deixar de aproveitar a oportunidade de neste tempo, sairmos missionariamente de nossos templos e irmos ao encontro daquelas famílias, que muitas vezes não compartilham conosco a vida litúrgica de nossas comunidades, mas dividem conosco os sentimentos de esperança por uma nova vida, mais plena de sentido e feliz em todos os aspectos.

Voluntaria ou involuntariamente, estas famílias procuram escapar rebeldemente das programações televisivas tão dominadoras e que não deixam fôlego para momentos familiares e comunitários. É comum que as novenas sejam momentos de comoção na família, por ser, não raramente o único tempo durante o ano em que se reúnem para rezar juntos e refletir sobre suas vidas. Quem coordena, deve estar sempre preparado para lidar com os sentimentos destas pessoas, que nestas celebrações, acabam se lembrando de familiares que já morreram, ou daqueles que se encontram de certa maneira escravos da doença, da droga, do ódio... e que causam a toda a família um sofrimento comum.

Ir às casas durante as novenas, firma nossa caminhada com o projeto de Jesus e nos recorda que as primeiras comunidades cristãs nasceram de reuniões domésticas, simples e informais, cheias de uma rica espiritualidade e que, grávidas do desejo pela vinda do Senhor, entoavam o MARANATHÁ (Cf. I Cor 16, 22; Ap 22,20; Rm 13,12), como o canto dos que aspiravam ardentemente a volta definitiva do Cristo, para que a sua promessa de vida plena e abundante se tornasse uma realidade nesta terra.

Com a renovação litúrgica iniciada pelo Concílio Vaticano II, fomos chamados a incrementar a liturgia “especialmente no que se refere à administração do sacramentos, aos sacramentais, às procissões, à língua litúrgica, à música sacra e às artes,...(SC 39), para melhor atender aos apelos que não só a Igreja de hoje nos faz, mas para responder ao mundo em que vivemos. Por isso nossas novenas, terços, procissões, missões e especialmente a Celebração da Eucaristia, devem ser melhor adaptadas à realidade do povo celebrante, que continua a responder ao apelo que Cristo fez: façam isto para manter viva a minha memória (Cf. I Cor 11,23-27; Lc 22, 19-20; ...e nós o faremos até que ele venha.

Dizemos isto para lembrar que a novena do Natal está entre os sacramentais, que segundo a SC nº 60, “são sinais sagrados, pelos quais, à imitação dos sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, que se obtêm pela oração da Igreja. Pelos sacramentais os homens e mulheres se dispõem para receber o efeito principal dos sacramentos e são santificados as diversas circunstâncias da sua vida. Sua liturgia permite que a graça divina, que promana do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo, do qual recebem a sua eficácia, santifique todos os acontecimentos da vida daqueles que o recebem com a devida disposição.
Empenhados em manter viva a beleza ritual deste tempo tão repleto de esperança, que é o Advento, com seus símbolos, textos bíblicos e eucológicos, seus cantos e novenas, continuemos e arder por dentro (Lc 24,32), prontos e vigilantes (Mc 13,35), alegres na oração (I Ts 5,16), despertos e cheios da certeza de que nosso Salvador vem, para libertar e reconciliar o mundo em seu amor. “Vem, Senhor, vem nos salvar, com teu povo, vem caminhar!”






Fontes:

Sacrossanctum Concilium – Constituição sobre a Liturgia do Concílio Vaticano II
Diretório Sobre Piedade Popular e Liturgia, da Congregação para o Culto Divino
Tempo para amar – Penha Carpanedo e Macelo Barros - Paulus
Celebrar com símbolos – Ione Bust – Paulinas
Preparando Advento e Natal – Ione Buyst – Paulinas
Natal, festa de luz e de alegria – Antônio Sagrado Bogaz - Paulus