terça-feira, 20 de novembro de 2012

Formação e Informação

O Papel dos Leigos na Igreja
 Uma reflexão baseada na Exortação Apostólica: Christifidelis Laici de 1997 do Papa João Paulo II.
Pe. Marcelo Fróes

Os Leigos são cristãos que têm uma missão especial na Igreja e na sociedade. Pelo batismo, receberam essa vocação que devem vivê-la intensamente a serviço do Reino de Deus.       
Certa vez, falando aos bispos do Brasil em uma de suas visitas “ad limina” o Papa João Paulo II disse a eles: “O fiel leigo, na sua própria vida cristã e em sua atuação na Igreja, não é um mero auxiliar do Bispo ou do Padre. O Batismo lhe dá direito e, portanto, também o dever de realizar em sua existência a ação sacerdotal de Cristo. Daí a justa autonomia do fiel leigo naquilo que lhe é próprio: em qualquer estado ou condição de vida, cada pessoa na sociedade, independentemente da sua raça e cultura, tem o lugar que lhe é devido e é chamada ‘a exercer a missão que Deus confiou à Igreja para esta realizar no mundo’ (Código de Direito Canônico, 204).”
São Paulo nos lembra: “Vós sois o Corpo de Cristo, e cada um de vós é um dos seus membros” (1Cor 12,27).
“A área específica do leigo é o apostolado no mundo secular, inserido nas realidades temporais, na escola, na indústria, na economia, política, artes, música, etc, participando, como cristão, das atividades do seu estado de vida e trabalho social” ( “Christifideles laici”, 17). O mundo é o campo de trabalho do leigo.
Na Igreja existem as diversas vocações: a sacerdotal, a diaconal, a religiosa e a leiga. Todas são muito importantes e necessárias, pois brotam do Batismo, fonte de todas as vocações.
Antigamente, a missão do leigo era relegada a segundo plano, valorizando-se só o sacerdócio e a vida religiosa. Mas depois do Concílio Vaticano II, a vocação e missão dos leigos foram revalorizadas, conferindo-lhes a mesma dignidade dos sacerdotes e religiosos.
Dentro da comunidade eclesial, os leigos são chamados a desempenhar diversas tarefas: catequista, Ministro da Eucaristia, agente das diferentes pastorais, serviço aos pobres e aos doentes. São chamados também a colaborar no governo paroquial e diocesano, participando de conselhos pastorais e econômicos.
Não como simples colaboradores do bispo e dos padres, mas como membros ativos da comunidade, assumindo ministérios e serviços para o engrandecimento da Igreja de Cristo.
Apesar desses serviços que desempenham na comunidade eclesial, a missão mais importante dos leigos é no mundo. Eles são chamados a realizar sua missão dentro das realidades nas quais se encontra no dia-a-dia.
Na família, no trabalho, na escola, no mundo da política e da cultura, nos movimentos populares e sindicais, nos meios de comunicação, é chamado a testemunhar, pela palavra e pela vida, a mensagem de Jesus Cristo. Nessas realidades, é chamado a desempenhar sua missão, necessária e insubstituível.
Por isso o papel do leigo não é ficar o dia todo na igreja, mas ser fermento nesses campos de vida e de atuação, ser "sal da terra e luz do mundo". Nesses ambientes deve se empenhar para a construção efetiva do Reino de Deus, "um reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz", como rezamos no prefácio da missa da festa de Cristo Rei.
O reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa em prol dos irmãos, onde há o respeito pêlos outros, onde se luta pela justiça e pela libertação. E tudo isso acontece de modo especial através da atuação dos cristãos leigos.
Quando os leigos assumem de fato sua missão específica, podemos sonhar com uma nova ordem social. O Concílio Vaticano II e os ensinamentos do papa insistem muito na necessidade de os leigos participarem ativamente na construção de uma nova sociedade, aperfeiçoando os bens criados e sanando os males. Felizmente, muitos têm entendido essa missão e se empenhado para bem cumpri-la.
Vemos com muita esperança o crescimento hoje da tomada de consciência por parte de muitos leigos que compreendem essa índole específica de sua missão. Acreditam nela e procuram exercê-la de modo digno e eficiente para que se faça cada vez mais concreta a promessa de Jesus: "O Reino de Deus está presente no meio de vós."
Devem participar da vida comunitária, buscando nas celebrações, sobretudo na Eucaristia, as forças de que necessitam para bem desempenhar sua missão na comunidade e no mundo.
Através dos leigos, a Igreja se faz presente nos diversos ambientes sociais, impregnando-os da mensagem de Jesus Cristo, semeando os valores evangélicos da solidariedade e da justiça, empenhando-se decisivamente na construção da sociedade justa, fraterna e solidária, sinal do Reino de Deus.
Mais do que nunca a Igreja precisa hoje dos leigos no campo de batalha do mundo; pois hoje ela é magoada, ofendida, perseguida e tida por muitos como a culpada de todos os males. Escândalos e blasfêmias se repetem a cada dia. Uma escala de valores pagã tenta insistentemente substituir a civilização cristã por uma cultura de morte (aborto, eutanásia, destruição de embriões, contracepção, prática homossexual...); e Deus vai sendo eliminado na sociedade como se fosse um mal, e a religião católica vai sendo atacada por um laicismo agressivo anticristão.
É hora de saber quem é verdadeiramente cristão, quem ama a Deus de verdade, a Jesus Cristo e a Sua Igreja.

Perguntas para Reflexão

1.      Que interrogações, dúvidas ou descobertas te suscitaram a leitura deste texto?

2.      Tens consciência de que a comunhão dos cristãos em geral e entre nós a nível particular, só é possível a partir da comunhão com Jesus?

3.      Em que se fundamenta a dignidade de cada pessoa? Que conseqüências daí derivam? Que compromisso nos pede?

4.      Pensas que é um direito e um dever dos leigos, o compromisso em participar na política? Como se concretiza na tua vida?



Bibliografia:
 - AQUINO, Prof. Felipe. Catequese, Canção Nova.
- FARIA, D. João Bosco Óliver de, Voz do Pastor, Arcebispo de Diamantina.


Espiritualidade do Leigo

O Ano da Fé – Uma perspectiva de voltar às fontes!

Pe. Marcelo Fróes

No dia 11 de outubro de 2011, pela Carta Apostólica “Porta fidei”, o Papa Bento XVI proclamou um novo Ano da Fé, que será de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, Solenidade de nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II.
O último Ano da Fé proclamado por um papa foi em 1967 quando, após o Concílio Vaticano II, o Pontífice Paulo VI o proclamou e o encerrou com a sua "Profissão de Fé", o “Credo do Povo de Deus”. O objetivo era dissipar os erros de doutrina que se propagavam após o Concílio Vaticano II. Também para que houvesse, em toda a Igreja, “uma autêntica e sincera profissão da mesma fé”. Certamente, Bento XVI quer hoje também coibir os erros de doutrina que se espalham na Igreja.
O Papa Bento XVI começa dizendo que "não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida" (cf.Mt 5,13-16). "Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna" (Jo 6,27). O Santo Padre lembra que, na data de 11 de outubro de 2012, completam-se vinte anos da publicação do "Catecismo da Igreja Católica". Ele ressalta que convocou um Sínodo dos Bispos para o mês de outubro de 2012 tendo por tema "a nova evangelização para a transmissão da fé cristã". 
O Pontífice fala efusivamente da importância do Concílio Vaticano II: "Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça que beneficiou a Igreja no século XX. Nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa”. Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: "Se o lermos e recebermos, guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja”. Essas palavras do Papa fazem calar aqueles que se opõem ao Concílio.
O Ano da Fé, diz o Papa, é um “convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo” (cf. At4,12). Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias”. O Papa quer que, neste Ano da Fé, tanto as comunidades religiosas como as paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, “façam publicamente profissão do Credo”. Ele quer que cada crente “confesse a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança”. 
O Papa lembra que a profissão de fé não pode ser apenas algo privado, no silêncio dos lares e da Igreja, mas pública: "Por sua vez, o professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso público. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um fato privado. A fé, precisamente por que é um ato da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita. No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anuncia a própria fé a toda gente”. Assim, o Papa pede uma ação clara contra o laicismo anticatólico agressivo que quer confinar a fé nas casas e nas igrejas.
Fortemente, o Papa Bento XVI chama a atenção para o uso do "Catecismo da Igreja" no Ano da Fé. "Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. o Beato João Paulo II escrevia: “Este Catecismo dará um contributo muito importante à obra de renovação de toda a vida eclesial (...). Declaro-o norma segura para o ensino da fé e, por isso, instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial”. “O Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de fato, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. 
Desde a Sagrada Escritura aos padres da Igreja, desde os mestres de teologia aos santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé. O Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária. Repassando as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja. Na mesma linha, a doutrina do Catecismo sobre a vida moral adquire todo o seu significado se for colocada em relação com a fé, a liturgia e a oração”.
E continua o Papa: “No ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural”.
Por fim, o Papa pede que, ao longo deste ano, mantenhamos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, “autor e consumador da fé” (Heb 12,2); pois “o justo vive pela fé” (Hab 2,3; Rm 1, 17; Gal 3. 11; Hb 10,38) e “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6).

Perguntas para Reflexão:
1.      A Fé é atitude?
2.      Por que a fé funciona com uns e com outros não?
3.      Pode a fé anular a lei de Deus?  Rm 3,31
4.      A fé do crente (?) é suficiente para a salvação?

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Espiritualidade do Leigo

Sacramentalidade da Liturgia, uma perspectiva pastoral!                                                                  Pe. Marcelo Fróes
           
Sacramentalidade é um conceito aplicado a toda a liturgia, para expressar que ela goza da mesma natureza dos sacramentos, e deriva da própria “economia da salvação”. Significa falar de modo pelo qual Deus nos salva. Esse modo é sacramental, isto é, mediado por uma linguagem simbólica. Em sentido profundo, não existe outra forma de comunicação com o ser humano.
            Jesus é o sacramento do Pai, e da mesma forma se entende a Igreja: é o sacramento de Cristo, na condição de seu Corpo e continuadora da sua missão. A sacramentalidade da economia da salvação é muito bem expressa pela LG 1 e pela SC 5-6. Dessa mesma economia deriva a sacramentalidade da liturgia, enquanto celebra a salvação e prolonga a ação salvífica de Cristo,o sacramento primeiro.
            Três aspectos delineiam a sacramentalidade da liturgia: a expressão significativa, o fato valorizado e a intercomunhão solidária. Fica claro que a expressão significativa são os ritos e símbolos da celebração cristã; o fato valorizado é o próprio mistério de Cristo; a intercomunhão solidária, a Igreja como Corpo do Senhor, do qual ele mesmo é a cabeça. A expressão significativa comporta duas dimensões: uma sensível e a outra não sensível. A parte sensível é o que vemos, tocamos, cheiramos, degustamos e ouvimos. A parte não sensível é o próprio mistério que confere sentido e densidade. Uma se orienta para a outra: a água que se vê e se toca conduz à purificação dos pecados, à comunhão com a morte e a ressurreição do Senhor, ao Cristo “água viva” que sacia nossa sede. O fato valorizado é a própria salvação realizada na pessoa de Jesus Cristo. É o “mistério da fé” que perpassa toda a liturgia e fecunda os sinais. Esse mistério, testemunhado pela Escritura e pela Tradição, não está encerrado no passado. Dois movimentos lhe dão acesso: ‘movimento descendente’- ele vem ao encontro da comunidade que celebra, tocando-a por meio da celebração. ‘movimento ascendente’ – ela, por sua vez, vai ao seu encontro por meio da ação memorial que realiza por meio dos ritos e preces (cf. SC. 48).
            A comunidade de fé é o sujeito da ação litúrgica. Mas essa ação só tem sentido em estreita comunhão com Cristo. E ele quem age nas celebrações por meio das pessoas dos ministros e da assembléia. A ação da Igreja se entende na perspectiva da íntima comunhão com o Senhor, com o seu corpo místico. Ao movimento ascendente da súplica e do louvor e adoração corresponde sempre ao movimento descendente da salvação, da bênção, da vida plena que Deus oferece.
            Que significa então participar plenamente da liturgia, levando em conta a sua sacramentalidade? Significa mergulhar na celebração, ação eminentemente simbólica, jogo de sinais. Tudo começa pelo sentido, que são a porta de entrada para uma participação efetiva.
            A falta de sacramentalidade corresponde à falta de participação. Somente se participa do mistério mediante uma dinâmica sacramental. Não se participa do mistério de Cristo por uma imagem projetada ou por um simulacro dos símbolos e ritos da Igreja. Os sinais precisam ser verdadeiros. Uma imitação de vela ou de flor não remete a nada. Além disso, é necessário permitir, favorecer a sua verdade. Um canto mal entoado por preguiça de freqüentar ensaios, uma fração do pão que não se vê uma leitura mal proclamada ou uma aspersão que não se sente não comunicarão o mistério.
            Jesus continua hoje, por meio da Igreja e da liturgia, sua obra redentora. Sentado à direita do Pai, ele continua a agir sacramentalmente: na Igreja, nos sacramentos, nas demais celebrações da liturgia, na missão de evangelizar e anunciar o reino de Deus.      

Fontes:

-BUYST, I. alguém me tocou! Sacramentalidade da Liturgia na Sacrosanctum  Concilium (SC), constituição conciliar sobre a Sagrada liturgia. São Paulo, n. 176, 2003;
- BARAÚNA, G. A participação ativa, princípio inspirador e diretivo da constituição litúrgica. IN: estudos e comentários em torno da constituição litúrgica do Concílio Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 1964.
- LIMA, Pe. Danilo César dos Santos. O Uso dos aparatos técnicos nas celebrações. In: Revista Vida Pastoral, mês de Julho-Agosto, 2012, n. 285, p.21-25.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Espiritualidade do Leigo

A Alma que busca à Deus!

(...)Esta fome, que me acompanha por tantos anos, era a vontade de enxergar o que estava além de mim. Tentei de diversas maneiras, e agora encontrei o único caminho certo: através de Deus.


A alma procura Deus, como o ar quente busca as alturas, e os rios correm para o mar. A alma tem dois poderes: o desejo de buscar, e a capacidade de lutar por este desejo.

E a alma nunca perde seu caminho, da mesma maneira que a água não corre montanha acima. Por isso, todas as almas estarão em Deus, não importa quanto tempo isto demore.

O sal não perde suas propriedades, mesmo quando misturado a todas as águas do oceano. A alma não perde esta fome de Deus; ela é eterna, e um dia será saciada.

A alma jamais deixara de buscar a Deus. E quando o encontrar, irá descobrir que Ele também a estava buscando.»





Kahlil Gibran, em "Cartas de amor do profeta"

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Espiritualidade Litúrgica


Sendo o Ano Litúrgico divididos em três Ciclos: Ciclo do Natal, Ciclo da Páscoa e Tempo Comum, apresento as principais festas que incrementam aos ciclos:



08/01/12 - Epifania do Senhor
09/01/12 - Batismo do Senhor
22/02/12 - 4ª feira de Cinzas
08/04/12 - Páscoa da Ressurreição
20/05/12 - Ascensão do Senhor
27/05/12 - Pentecostes
03/06/12 - Santíssima Trindade
07/06/12 - Corpus Christi
15/06/12 - Sagrado Coração de Jesus
01/07/12 - São Pedro e São Paulo
19/08/12 - Assunção de N. Senhora
04/11/12 - Todos os Santos
25/11/12 - Cristo Rei
02/12/12 - 1º Domingo do Advento
25/12/12 - Natal do Senhor
30/12/12 - Sagrada Família

Espiritualidade Litúrgica


Oração da Equipe de Liturgia

Divino Espírito Santo, iluminai as nossas mentes, transformai os nossos corações! Que este estudo nos ajude a mergulhar no mistério da fé e da vida celebrada em comunidade. Dai-nos força e coragem, sabedoria e criatividade. Queremos organizar uma Pastoral Litúrgica dinâmica, a fim de que todo o vosso povo participe da liturgia de maneira mais plena, ativa e consciente.
Amém

segunda-feira, 5 de março de 2012

Formação Litúrgica


TRÍDUO PASCAL- Espiritualidade e Preparação Orante

O tríduo pascal é o período de três dias durante o qual os cristãos celebram o centro de sua fé, a paixão, morte e a ressurreição de Jesus Cristo: o SEU mistério pascal! Esse termo vem do latim (tres “três” e dies “dia”).
O tríduo pascal começa na quinta-feira santa e termina no dia da Páscoa, depois das vésperas. Esses três dias constituem o centro de gravidade de todo o ano litúrgico. Sucessivamente, os cristãos comemoram a última ceia de Cristo com os seus discípulos, a prisão, crucificação e seu sepultamento e depois a sua ressurreição dentre os mortos.
Esses três dias formam um conjunto fortemente simbólico: recordam aqueles acontecimentos evocados no Evangelho de João. Jesus, tendo expulsado os vendilhões do Templo é interpelado pelos judeus para que manifeste a autoridade em nome de quem realizou esse gesto em Jerusalém, ao que lhes responde: “Destruí esse santuário e em três dias eu o reconstruirei”. Prefigurando a sua ressurreição, o evangelista interpreta: “Ele falava do santuário de seu corpo” (Jo 2, 18-21).
São três aspectos de uma única páscoa: Páscoa da ceia (5ª feira); Páscoa da Cruz (6ª feira); Páscoa da Ressurreição (Vigília Pascal).

Por que esses três dias?

A Igreja celebra num único e mesmo movimento a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Ela manifesta assim a relação essencial entre a maneira de Jesus viver e morrer, “dando a sua vida por seus amigos” (Jo 15, 12), e sua ressurreição dentre os mortos. Isso manifesta que a existência de Jesus, tal como foi vivida até a cruz, é acolhida e salva por Deus.

O que é celebrado na Quinta-feira Santa?

Na noite da quinta-feira antes da Páscoa, nós celebramos a Ceia, a última refeição de Jesus com os seus discípulos, na qual lhes anuncia que vai entregar a sua vida livremente e por amor. Essa entrega é significada de maneira diferente pelos quatro Evangelhos. Marcos, Mateus e Lucas mostram Jesus partilhando com os Doze pão e vinho, que representam o seu corpo e o seu sangue.
No Evangelho de João, esta cena está ausente, e a entregue de Jesus é traduzida pelo gesto do lava-pés. Jesus assume assim a situação de servo e deixa aos seus discípulos este testamento: “Pois é um exemplo que eu vos dei: o que fiz por vós, fazei-o vós também” (Jo 13, 15).
Fiel à memória de Cristo, a Igreja procede, na noite da Quinta-feira santa, ao rito do lava-pés e celebra solenemente a Eucaristia. No fim da missa, os fieis prosseguem a sua oração acompanhando Jesus na noite de sua prisão no Jardim das Oliveiras. ‘Não podeis vigiar uma hora comigo?’ pergunta Jesus no Getsêmani. É o contrário de tudo o que o homem religioso espera de Deus.

A Sexta-feira Santa é um dia de morte?

Não apenas isso, porque nesse dia os cristãos celebram o amor extremo de Deus. Eles celebram a “kénose” de Deus, sua humilhação que vai até a cruz para reunir os homens. Nesse gesto radical de humildade, que inverte a visão pagã de um Deus dominador, os cristãos recebem a revelação de um Deus que é amor.
Durante este dia, os cristãos acompanham Jesus em sua Paixão, relendo comunitariamente o relato de sua prisão e morte. Ao longo do ofício, a liturgia prevê um gesto de adoração da cruz:símbolo fiel de salvação e da vitória sobre o pecado. Desde o fim da Idade Média, a prática da via-sacra se difundiu largamente. Isso acontece depois do meio-dia da sexta-feira e consiste numa peregrinação em catorze (ou quinze) estações.

O Sábado Santo é um dia “vazio”?

O Sábado Santo é o único dia do ano litúrgico em que não se realiza nenhum ofício coletivo, exceto a liturgia das horas, ou Ofício Divino das Comunidades. Nenhum sacramento é celebrado. É um dia de silêncio e de recolhimento, um dia de espera.
A Tradição o associa “à descida aos infernos”, particularmente presente na espiritualidade bizantina: o Cristo reúne os mortos que permaneceram longe de Deus, a começar por Adão e Eva, para associá-los à libertação iminente de sua ressurreição. O Sábado santo é também consagrado aos preparativos da Festa da Páscoa nas famílias e comunidades cristãs.

O que é celebrado na vigília pascal?

Na Páscoa – celebrada tanto na liturgia noturna do Sábado santo como no domingo da Páscoa –, a Igreja celebra a ressurreição de Jesus, sua “passagem” da morte à vida. Segundo a fé cristã, Deus não deixou seu Filho crucificado na cruz. “Deus o ressuscitou”, “Deus o glorificou”, “Deus o restabeleceu” da morte – estas são as palavras em grego utilizadas pelo Novo Testamento – quem deu a sua vida por amor ao seu Pai e aos homens.
Para os cristãos, essa vitória sobre a morte concerne toda a humanidade. “Pois sabemos: aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Jesus”, escreve Paulo aos Coríntios (2Cor 4, 14). Este anúncio de uma vida em abundância, mais forte que a morte, é a salvação, a “boa nova” festejada na Páscoa.
Orientações Litúrgicas para uma preparação Orante:
As orientações litúrgicas apontam todas para uma estreita relação entre a celebração da Missa da Ceia do Senhor e a Celebração da Paixão: "O Sacrário deve estar completamente vazio ao começar a celebração. Deverão ser consagrado nesta Missa as hóstias necessárias para a comunhão dos fiéis, e para que o clero e o povo possam comungar no dia seguinte... Para a reserva do Santíssimo... recomenda-se que não se perca de vista a sobriedade e austeridade que correspondem à Liturgia destes dias, evitando ou corrigindo qualquer forma de abuso... Com efeito a capela da reposição é preparada não para representar a "sepultura do Senhor", mas para guardar o pão eucarístico para a comunhão que será distribuída na Sexta-Feira na Paixão do Senhor".
A Missa da Ceia do Senhor nem tem bênção, nem despedida. E a Celebração da Paixão, não tem canto de entrada, nem saudação do Presidente. Os ritos iniciais são a procissão em silêncio e a prostração.

1) A Celebração da Paixão do Senhor deve celebrar-se numa hora entre as 12 e as 15 horas. Se motivos pastorais sérios aconselharem outra hora, nunca seja antes do meio-dia, nem depois das 21h (9 da noite). A adoração da Cruz é feita a uma única cruz e de forma pessoal. No caso excepcional de extraordinária concorrência de fiéis que impeça que o rito se desenrole de forma digna e em tempo conveniente, então, poder-se-á propor uma adoração colectiva. Nunca, entretanto, a adoração simultânea de várias cruzes . A celebração conclui com a oração sobre o povo, sem despedida.

2) Neste dia não se celebra a Eucaristia. E a comunhão aos fiéis, com exceção dos doentes ausentes, é distribuída apenas durante a celebração. É proibido, também, celebrar qualquer sacramento, com exceção da Penitência e da Unção dos doentes. No sábado não há Missa, nem comunhão aos doentes, a não ser o viático. É proibida a celebração do Matrimônio e de outros sacramentos, para além do Sacramento da Penitência e da Unção dos doentes.

3) O sábado santo (2º dia do Tríduo) é um dia cheio de grande significado. Não é o "sábado de aleluia", mas o sábado do repouso junto do túmulo do Senhor, em que a igreja medita na Paixão, na Morte e na descida à mansão dos mortos do seu Redentor e aguarda, no jejum e na oração, a sua Ressurreição. Para além da reunião da comunidade para a oração, não há qualquer outra celebração, a não ser o carácter do próprio dia.

4) A Vigília (3º dia do Tríduo) é o cume do Tríduo. Realiza-se integralmente de noite, "uma noite de vela em honra do Senhor". Não faz parte do sábado, nem é, nem pode ser substituída por uma missa vespertina. "Por isso não deve escolher-se uma hora tão cedo que ela comece antes do início da noite, nem tão tardia que termine depois da aurora do Domingo. Esta regra é de interpretação estrita. Qualquer abuso ou costume contrário... é de reprovar...". A celebração deve começar, quanto possível, fora da igreja, à volta de uma fogueira. O círio pascal deve ser de cera, novo em cada ano, nunca fictício. A entrada na igreja deve ser apenas iluminada pelo círio que todos seguem (Presidente, ministros e fiéis). A liturgia da Palavra consta de 7 leituras do Antigo Testamento e duas do Novo. Excepcionalmente, poderá reduzir-se o número das leituras do A.T., nunca abaixo de três e sem omitir a leitura do Êxodo 14. O ponto alto é a celebração da Liturgia Eucarística. Evite-se que seja apressada.

5) Finalmente, a Missa do domingo de Páscoa deve celebrar-se com a máxima solenidade
Bibliografia:
 RIGO, Enio José. Tempo Litúrgico. Série Litúrgica, São Paulo: Paulinas,2009.
 BERGAMINI, Augusto. Cristo, Festa da Igreja. O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994.
 BOROBIO, Dionisio. (org). A celebração na Igreja. São Paulo: Loyola, 1990.
 BECKHÄUSER, Alberto, OFM. Celebrar Bem. Petrópolis: Vozes, 2007.

Novidades!!!


Seminário Nacional de Liturgia – celebrando os
50 anos da Sacrosanctum Concilium

Por: Padre Marcelo Fróes – Liturgista

Em 04 de dezembro de 2013, a Igreja Católica Romana estará comemorando 50 anos da promulgação da Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, Sacrosanctum Concilium (SC), primeiro documento votado e aprovado pelo Concílio Ecumênico Vaticano II,convocado pelo saudoso Papa João XXIII e continuado pelo seu sucessor Paulo VI. O concílio significou uma profunda renovação interna da Igreja e também em sua relação com outras Igrejas cristãs, com as outras religiões e com a sociedade.
E para celebrar tal acontecimento da história foi promovido pela Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI) e pela Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com a Rede de Animação Litúrgica (Rede Celebra), Centro de Liturgia, Revista de Liturgia: o Seminário Nacional de Liturgia, em comemoração aos 50 anos de promulgação da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium.
Estiveram presentes cerca de 157 pessoas, entre bispos, presbíteros, leigos e leigas do Brasil e da América Latina. O Seminário teve como temática a Releitura da Sacrosantum Concilium, no Contexto do Concílio Vaticano II e nos Documentos Latino-Americanos. O Seminário de Liturgia aconteceu de 31 de janeiro a 04 de fevereiro.
O Seminário contou com a assessoria principal do professor de Teologia Sacramental na Pontifícia Faculdade Teológica da Universidade de São Anselmo em Roma, e professor de teologia no Instituto de Liturgia Pastoral de Pádua, Andrea Grillo, assim como outros já de nossa convivência, tais como: Pe. Oscar Beozzo, Frei José Ariovaldo, D. Armando Bocciol, D. Edmar Perón entre outros.
O evento tem por objetivo retomar as intuições e a teologia litúrgica na Sacrosanctum Concilium e demais constituições e decretos do Vaticano II e documentos pós-conciliares, no contexto da renovação da liturgia da América Latina e Caribe, à luz de Medellin, Puebla, Santo Domingo e Aparecida, em busca do rosto e do lugar da liturgia na vida e na missão da Igreja como serviço para a vida plena em Cristo e ao acontecimento do Reino de Deus.
De que trata afinal, a SC? O que encontramos nesta constituição? Traz os fundamentos teológicos e orientações para uma profunda renovação e compreensão da liturgia, isto é, da celebração eucarística e dos sacramentos, da celebração da Palavra de Deus, das exéquias, do ofício divino (liturgia das horas), do ano litúrgico, da música litúrgica, do espaço e da arte litúrgica... Não se trata de introduzir novidades, mas de realizar uma “volta às fontes” de nossa fé cristã: a sagrada escritura, a vida litúrgica nos primeiros séculos, os escritos dos Santos Padres. Era necessário retirar a “poeira” e os acréscimos que foram se acumulando durante séculos e que dificultavam o entendimento e a vivência da fé recebida das primeiras comunidades cristãs. Era necessário ainda que a liturgia falasse a língua de cada povo, de cada cultura, e que o povo de Deus recebesse a devida formação litúrgica.
Com seu documento sobre a Liturgia o Concílio Vaticano II quis responder à necessidade de uma reforma da Liturgia romana. Consciente de que não poderia realizar todo o trabalho que tal reforma iria exigir, quis apenas orientar para ele. Antes de dar orientações mais concretas e detalhadas para as diversas celebrações, resolveu estabelecer princípios gerais que deveriam nortear o trabalho da reforma a ser realizada depois do Concílio. Estes princípios gerais são dados no primeiro capítulo da SC; nos demais seguem, orientações para as diferentes celebrações e dimensões da Liturgia, baseados nos princípios estabelecidos.
Achou-se necessário que uma primeira coisa a ser esclarecida seria: Que Liturgia queremos? Depois de ter deixado clara a natureza da Liturgia, seria indicado o seu lugar no conjunto da vida da Igreja e dos fiéis, para concluir que todos os batizados teriam o direito e o dever de participar ativa, consciente e plenamente das ações litúrgicas, o que, no entanto, não seria possível sem formação litúrgica dos leigos e do clero.
Com tudo isso já fica evidente que o Concílio visava não apenas uma reforma externa dos ritos litúrgicos, mas uma nova compreensão da Liturgia, uma nova mentalidade litúrgica, uma renovação também interna, espiritual da Liturgia e da Igreja.
O Seminário nos deixa alguns questionamentos que gostaria de partilhar e refletir juntos: depois de 50 anos de renovação litúrgica conciliar, pergunta: mudou alguma coisa? O objetivo da SC foi atingido? Fomos capazes de assimilar e colocar em prática os princípios da SC? O que conseguimos realizar? O que falta fazer? Qual o próximo passo a ser dado? O que é mais urgente e viável no momento atual?
No próximo artigo continuaremos falando da SC. Um abraço!
Referências:
- Revista de Liturgia: Editorial, nº. 229, Janeiro/Fevereiro, 2012, pág. 3 e 4;
- LUTZ, Gregório, Sacrosanctum Concilium, in.: Revista de Liturgia, nº. 229, Janeiro/Fevereiro, 2012, pág. 19.