quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Espiritualidade do Leigo

Sacramentalidade da Liturgia, uma perspectiva pastoral!                                                                  Pe. Marcelo Fróes
           
Sacramentalidade é um conceito aplicado a toda a liturgia, para expressar que ela goza da mesma natureza dos sacramentos, e deriva da própria “economia da salvação”. Significa falar de modo pelo qual Deus nos salva. Esse modo é sacramental, isto é, mediado por uma linguagem simbólica. Em sentido profundo, não existe outra forma de comunicação com o ser humano.
            Jesus é o sacramento do Pai, e da mesma forma se entende a Igreja: é o sacramento de Cristo, na condição de seu Corpo e continuadora da sua missão. A sacramentalidade da economia da salvação é muito bem expressa pela LG 1 e pela SC 5-6. Dessa mesma economia deriva a sacramentalidade da liturgia, enquanto celebra a salvação e prolonga a ação salvífica de Cristo,o sacramento primeiro.
            Três aspectos delineiam a sacramentalidade da liturgia: a expressão significativa, o fato valorizado e a intercomunhão solidária. Fica claro que a expressão significativa são os ritos e símbolos da celebração cristã; o fato valorizado é o próprio mistério de Cristo; a intercomunhão solidária, a Igreja como Corpo do Senhor, do qual ele mesmo é a cabeça. A expressão significativa comporta duas dimensões: uma sensível e a outra não sensível. A parte sensível é o que vemos, tocamos, cheiramos, degustamos e ouvimos. A parte não sensível é o próprio mistério que confere sentido e densidade. Uma se orienta para a outra: a água que se vê e se toca conduz à purificação dos pecados, à comunhão com a morte e a ressurreição do Senhor, ao Cristo “água viva” que sacia nossa sede. O fato valorizado é a própria salvação realizada na pessoa de Jesus Cristo. É o “mistério da fé” que perpassa toda a liturgia e fecunda os sinais. Esse mistério, testemunhado pela Escritura e pela Tradição, não está encerrado no passado. Dois movimentos lhe dão acesso: ‘movimento descendente’- ele vem ao encontro da comunidade que celebra, tocando-a por meio da celebração. ‘movimento ascendente’ – ela, por sua vez, vai ao seu encontro por meio da ação memorial que realiza por meio dos ritos e preces (cf. SC. 48).
            A comunidade de fé é o sujeito da ação litúrgica. Mas essa ação só tem sentido em estreita comunhão com Cristo. E ele quem age nas celebrações por meio das pessoas dos ministros e da assembléia. A ação da Igreja se entende na perspectiva da íntima comunhão com o Senhor, com o seu corpo místico. Ao movimento ascendente da súplica e do louvor e adoração corresponde sempre ao movimento descendente da salvação, da bênção, da vida plena que Deus oferece.
            Que significa então participar plenamente da liturgia, levando em conta a sua sacramentalidade? Significa mergulhar na celebração, ação eminentemente simbólica, jogo de sinais. Tudo começa pelo sentido, que são a porta de entrada para uma participação efetiva.
            A falta de sacramentalidade corresponde à falta de participação. Somente se participa do mistério mediante uma dinâmica sacramental. Não se participa do mistério de Cristo por uma imagem projetada ou por um simulacro dos símbolos e ritos da Igreja. Os sinais precisam ser verdadeiros. Uma imitação de vela ou de flor não remete a nada. Além disso, é necessário permitir, favorecer a sua verdade. Um canto mal entoado por preguiça de freqüentar ensaios, uma fração do pão que não se vê uma leitura mal proclamada ou uma aspersão que não se sente não comunicarão o mistério.
            Jesus continua hoje, por meio da Igreja e da liturgia, sua obra redentora. Sentado à direita do Pai, ele continua a agir sacramentalmente: na Igreja, nos sacramentos, nas demais celebrações da liturgia, na missão de evangelizar e anunciar o reino de Deus.      

Fontes:

-BUYST, I. alguém me tocou! Sacramentalidade da Liturgia na Sacrosanctum  Concilium (SC), constituição conciliar sobre a Sagrada liturgia. São Paulo, n. 176, 2003;
- BARAÚNA, G. A participação ativa, princípio inspirador e diretivo da constituição litúrgica. IN: estudos e comentários em torno da constituição litúrgica do Concílio Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 1964.
- LIMA, Pe. Danilo César dos Santos. O Uso dos aparatos técnicos nas celebrações. In: Revista Vida Pastoral, mês de Julho-Agosto, 2012, n. 285, p.21-25.