segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Espiritualidade do Leigo

VERBUM DOMINI: DEO GRATIAS!


No mês de outubro de 2008, ocorreu um encontro de bispos do mundo inteiro, assim como representantes de Igrejas Evangélicas Cristãs, Ortodoxas e de Judeus. Havia também leigos e leigas, religiosas e religiosas. Essa reunião levou os presentes a refletirem sobre a Palavra de Deus na vida do cristão, e a missão da Igreja diante desta palavra.
No fim, domingo 26 de outubro de 2008, enviaram uma “Declaração” belíssima a todos os cristãos. Insistiram em dizer que a palavra de Deus não é só o texto da Bíblia, e não é um texto morto, mas é Deus mesmo que fala àquele que abre o seu coração lendo, na oração. Ou seja, a Palavra de Deus tem uma voz (a Revelação), um rosto (Cristo), uma casa (a Igreja), um caminho (a Missão).
Diz o cardeal D. Pedro Odilo Scherer, uns dos delegados brasileiros que, o sínodo é um momento de semeadura, que trará grandes frutos para a Igreja.
Como Igrejas somos convocados pela Palavra de Deus, alimentar-se e vive dela e ter a missão de servir à Palavra de Deus, levando-a a todos.
Não há como não lembrar outro documento sobre a Palavra de Deus, chamado “Dei Verbum”, de poucas páginas, porém decisivas, para toda a transformação da vida cristã, a partir do Concílio Vaticano II (1965). Foi a partir da Dei Verbum que a reforma litúrgica deu amplo espaço à Palavra de Deus, na missa. À luz da Dei Verbum, também a catequese colocou a Sagrada Escritura na mão dos catequizandos. As ciências bíblicas tiveram, a partir da Dei Verbum, um grande avanço. Esse documento fez surgirem os círculos bíblicos, colocou enfim a Bíblia Sagrada nas mãos dos católicos, antes só presente nas mãos dos pastores que, por sinal, passaram a ser designados como “evangélicos”, como se somente eles o fossem.
A Dei Verbum já tem quase 50 anos de caminhada. E não podemos dizer que se esgotaram suas inspirações e conseqüências. A nova Exortação Pós-Sinodal Verbum Domini não exclui, antes retoma e avança na mesma direção da Dei Verbum, apresentando-a a nós todos, como passo conseqüente de toda a caminhada litúrgica e pastoral que fizemos. Agora, animados pela força missionária proposta pela Conferência de Aparecida, deveremos retomar a Palavra de Deus com mais empenho, como um mergulho radical na intimidade de Deus, a partir da Palavra, deixando-nos, literalmente, conduzir pela Palavra, vale dizer, pelo próprio Deus.
O próprio Bento XVI que esteve presente nesse encontro apresentou como resultado final, uma lista de cinqüenta proposições. Ele retoma essas reflexões, apontando rumos para toda a Igreja. A exortação é dividida em três partes. A primeira traz a fundamentação teológica: a Palavra é Cristo presente no mundo. A segunda considera a Igreja como espaço da Palavra. E a terceira parte convoca toda a Igreja a anunciar a Palavra ao mundo, motivando a justiça e a caridade. O Papa elege como destinatários privilegiados da Palavra os jovens, os migrantes, os sofredores, os pobres. O documento nos convida a sair dos limites da própria Igreja, oferecendo ao mundo uma Palavra que é capaz de dialogar com a cultura atual e conduzir o mundo as relações mais justas e cuidadosas com relação à natureza, pois, todo ser criado é iluminado pelo Verbo.

Em relação à Liturgia apresento algumas cápsulas do documento:

Escritura e Liturgia: "Exorto os Pastores da Igreja e os agentes pastorais a fazer com que todos os fiéis sejam educados para saborear o sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano na liturgia, mostrando os mistérios fundamentais da nossa fé." (52)
A homilia: "É preciso que os pregadores tenham familiaridade e contato assíduo com o texto sagrado; preparem-se para a homilia na meditação e na oração, a fim de pregarem com convicção e paixão." (59)
Celebrações da Palavra de Deus: "Os Padres sinodais exortaram todos os Pastores a difundir, nas comunidades a eles confiadas, os momentos de celebração da Palavra. (...) Tal prática não pode deixar de trazer grande proveito aos fiéis, e deve considerar-se um elemento importante da pastoral litúrgica." (65)
Acústica: "Para favorecer a escuta da Palavra de Deus, não se devem menosprezar os meios que possam ajudar os fiéis a prestar maior atenção. Neste sentido, é necessário que, nos edifícios sagrados, nunca se descuide a acústica, no respeito das normas litúrgicas e arquitetônicas." (68)
Canto litúrgico: "No âmbito da valorização da Palavra de Deus durante a celebração litúrgica, tenha-se presente também o canto nos momentos previstos pelo próprio rito, favorecendo o canto de clara inspiração bíblica capaz de exprimir a beleza da Palavra divina por meio de um harmonioso acordo entre as palavras e a música. Neste sentido, é bom valorizar aqueles cânticos que a tradição da Igreja nos legou e que respeitam este critério; penso particularmente na importância do canto gregoriano." (70)
Leitura Orante da Bíblia: "Nos documentos que prepararam e acompanharam o Sínodo, falou-se dos vários métodos para se abeirar, com fruto e na fé, das Sagradas Escrituras. Todavia prestou-se maior atenção à lectio divina, que 'é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva'." (87)

Por mais 50 anos!

Meu desejo é que a Exortação Verbum Domini snão corra o risco de ser acolhida como uma novidade que passa, “mais um documento” que fica na estante ou na gaveta, como fazem com as novidades descartáveis que compramos nas lojas. A gente sabe que os Meios de Comunicação não valorizam nem divulgam os documentos da Igreja. Para a imprensa mundial, uma notícia de um pronunciamento do Papa sobre preservativos é destaque de primeira página, enquanto, um documento, como esse, ganha duas linhas, num canto qualquer, sem importância. Será necessário, então, que os padres, religiosas, as lideranças de todos os grupos de pastoral, grupos de reflexão, movimentos, comecem já a ler e estudar as páginas desse documento. Que seja assunto das homilias, das reuniões e dos planejamentos. Que o convite do Santo Padre chegue, pouco a pouco, a toda nossa gente através da ação evangelizadora, missionária e espiritual.
Meus amados leitores vamos aproveitar esta pérola que a Igreja hoje nos brinda. Sua novidade tem o sabor e a surpresa, a oportunidade e a eternidade que tem o próprio Verbo encarnado, quando se faz semente e brota, como planta nova, no terreno bem preparado do coração de cada um de nós.
Termino esse artigo, com essa belíssima passagem do livro de apocalipse, que nos lembra que pelo batismo somos todos profetas, anunciadores do Reino e de sua Palavra: “Ide ao mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda a criatura!” (Mc 16,15).

“A voz do céu que eu ouvira tornou então a falar-me: ‘Vai, toma o livrinho aberto da mão do Anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra.’ Fui, pois, ao Anjo e lhe pedi que me entregasse o livrinho. Então, ele me disse: ‘Toma-o e devora-o; ele te amargará o estômago, mas em tua boca será doce como mel.’ Tomei o livrinho da mão do Anjo e o devorei: na boca, era doce como mel; quando o engoli, porém, meu estômago se tornou amargo’” (Ap 10,8-11).

Um abraço!

Fontes:

• Voz do Pastor: Deus nos fala e nós respondemos. D. Frei João Bosco Barbosa de Souza, OFM – Bispo de União da Vitória – PR
• Texto sobre o Sínodo da Palavra do Pe. Bruno Cadart.

Eu vou e você?

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