quarta-feira, 1 de junho de 2011

Espiritualidade do Leigo


Benção ou Maldição???



Há tempos, num curso, alguém me falou: “Eu gostaria que você me desse uma definição a respeito do que é bênção”. No primeiro estágio da resposta disse-lhe que se ele tivesse feito essa pergunta a Esdras ou Neemias, a solução provavelmente seria curta e precisa: “bênção é a mão de Deus sobre nós” Ambos usaram essa expressão cerca de nove vezes, falando do bom, generoso e poderoso efeito da mão de Deus. Desse modo, a afirmação dos dois atinge o cerne da questão. Também poderíamos dizer: bênção significa “Deus está conosco!”.

A palavra bênção, , queno hebraico tem a raiz semita b-r-k que dá origem ao termo berakák traduz uma oferta, oportunidade ou chance. Com ela se exprimem dois elementos essenciais do pensamento bíblico: a felicidade humana e o dom divino que é sua fonte. O verbo “abençoar” traz consigo o significado de uma comunicação dos bens divinos garantidos por um mediador: o pai (para a família), o rei (para a nação), o sacerdote (para os que freqüentam o templo), o ministro (para a comunidade religiosa). Vários eventos humanos são vistos na Bíblia como bênçãos, tais como a fecundidade da esposa, a vitalidade dos filhos, a felicidade da comunidade, as boas safras e abundância das colheitas, o convívio com os amigos, etc.

Do verbo “abençoar” vem-nos o particípio baruk, que constitui o âmago da forma israelita da bênção: “Bendito seja...”. Trata-se de uma entusiasta manifestação a respeito de alguém a quem Deus acaba de revelar seu poder e sua generosidade.

No Antigo Testamento, a bênção, em geral, se refere a algum tipo de bem-estar terreno, segurança, poder, riqueza, descendência, etc., e essa bênção está expressamente condicionada à obediência aos mandamentos de Deus: Eis que, hoje, eu ponho diante de ti a bênção e a maldição: a bênção, quando cumprirdes os mandamentos do Senhor, teu Deus, que hoje te ordeno; a maldição, se não cumprires os mandamentos do Senhor, te Deus, mas te desviares do caminho que hoje ordeno, para seguires outros deuses que não conheceste (Dt 1,26-28).

No Novo Testamento, mantém-se o foco das antigas bênçãos. Jesus abençoa as crianças (cf. Mc 10,16), seus discípulos (cf. Lc 24,50), os pães (cf. Mc 6,41), etc. Igualmente Jesus ensinou aos discípulos a responder com uma bênção às maldições de seus inimigos (cf. Lc 6,28). Ele descreveu a eterna felicidade dos justos como a bênção definitiva dada pelo Pai, ao contrário das maldições que cairão sobre os que rejeitarem a salvação (cf. Mt 25, 34-41).

Foi com copiosas bênçãos que Deus coroou todos os atos da sua criação, ao dizer que tudo estava muito bom. Primeiro ele abençoou o homem e o seu trabalho. Depois abençoou o sétimo dia. O homem foi abençoado para poder empreender tudo o que o Criador projetou que ele fizesse. O sétimo dia foi abençoado e santificado para ser ocasião de descanso e reflexão. Abençoando-o, Deus relacionou-se intimamente com o homem, com o trabalho e com o sábado (judaico) e o domingo (cristão), realidades que ele próprio idealizou.

As Sagradas Escrituras estão repletas de situações de bênçãos, onde a benção proferida por Deus e aquela levada a efeito pelo homem se entrelaçam: Gn 27,27ss; Gn 49,25s.

Os batizados são chamados a abençoar e a ser uma bênção, que está intimamente ligada ao sacerdócio batismal. Todo batizado é chamado a participar do processo de “bênção”, eis por que os leigos podem presidir certas bênçãos.

Na liturgia da Igreja, a bênção divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e adorado como a fonte e o fim de todas as bênçãos da criação e da salvação; em seu Verbo, encarnado, morto e ressuscitado por nós, o Pai nos cumula com suas bênçãos, e por meio dele derrama em nossos corações o dom que contém todos os dons: o Espírito Santo.

Abençoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é, ao mesmo tempo, palavra e dom. No latim é benedictio, e no grego é euloguia. Aplicado à vida do ser humano, esse termo significa a adoração e a entrega a seu criador, na ação de graças. Bendizer é prestar um elogio.

Para finalizar, é bom interiorizarmos que a bênção é uma graça que atinge a vida e seu mistério, e é um dom que envolve gestos e palavras. Enquanto a prece da bênção afirma a generosidade divina, a ação de graças, que se move pela fé, já a viu manifestar-se.


Que Deus te abençoe e te guarde!
Ele te mostre a sua face e se compadeça de ti!
O Senhor volte para ti o seu olhar e te dê a sua paz!

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