segunda-feira, 5 de março de 2012

Formação Litúrgica


TRÍDUO PASCAL- Espiritualidade e Preparação Orante

O tríduo pascal é o período de três dias durante o qual os cristãos celebram o centro de sua fé, a paixão, morte e a ressurreição de Jesus Cristo: o SEU mistério pascal! Esse termo vem do latim (tres “três” e dies “dia”).
O tríduo pascal começa na quinta-feira santa e termina no dia da Páscoa, depois das vésperas. Esses três dias constituem o centro de gravidade de todo o ano litúrgico. Sucessivamente, os cristãos comemoram a última ceia de Cristo com os seus discípulos, a prisão, crucificação e seu sepultamento e depois a sua ressurreição dentre os mortos.
Esses três dias formam um conjunto fortemente simbólico: recordam aqueles acontecimentos evocados no Evangelho de João. Jesus, tendo expulsado os vendilhões do Templo é interpelado pelos judeus para que manifeste a autoridade em nome de quem realizou esse gesto em Jerusalém, ao que lhes responde: “Destruí esse santuário e em três dias eu o reconstruirei”. Prefigurando a sua ressurreição, o evangelista interpreta: “Ele falava do santuário de seu corpo” (Jo 2, 18-21).
São três aspectos de uma única páscoa: Páscoa da ceia (5ª feira); Páscoa da Cruz (6ª feira); Páscoa da Ressurreição (Vigília Pascal).

Por que esses três dias?

A Igreja celebra num único e mesmo movimento a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Ela manifesta assim a relação essencial entre a maneira de Jesus viver e morrer, “dando a sua vida por seus amigos” (Jo 15, 12), e sua ressurreição dentre os mortos. Isso manifesta que a existência de Jesus, tal como foi vivida até a cruz, é acolhida e salva por Deus.

O que é celebrado na Quinta-feira Santa?

Na noite da quinta-feira antes da Páscoa, nós celebramos a Ceia, a última refeição de Jesus com os seus discípulos, na qual lhes anuncia que vai entregar a sua vida livremente e por amor. Essa entrega é significada de maneira diferente pelos quatro Evangelhos. Marcos, Mateus e Lucas mostram Jesus partilhando com os Doze pão e vinho, que representam o seu corpo e o seu sangue.
No Evangelho de João, esta cena está ausente, e a entregue de Jesus é traduzida pelo gesto do lava-pés. Jesus assume assim a situação de servo e deixa aos seus discípulos este testamento: “Pois é um exemplo que eu vos dei: o que fiz por vós, fazei-o vós também” (Jo 13, 15).
Fiel à memória de Cristo, a Igreja procede, na noite da Quinta-feira santa, ao rito do lava-pés e celebra solenemente a Eucaristia. No fim da missa, os fieis prosseguem a sua oração acompanhando Jesus na noite de sua prisão no Jardim das Oliveiras. ‘Não podeis vigiar uma hora comigo?’ pergunta Jesus no Getsêmani. É o contrário de tudo o que o homem religioso espera de Deus.

A Sexta-feira Santa é um dia de morte?

Não apenas isso, porque nesse dia os cristãos celebram o amor extremo de Deus. Eles celebram a “kénose” de Deus, sua humilhação que vai até a cruz para reunir os homens. Nesse gesto radical de humildade, que inverte a visão pagã de um Deus dominador, os cristãos recebem a revelação de um Deus que é amor.
Durante este dia, os cristãos acompanham Jesus em sua Paixão, relendo comunitariamente o relato de sua prisão e morte. Ao longo do ofício, a liturgia prevê um gesto de adoração da cruz:símbolo fiel de salvação e da vitória sobre o pecado. Desde o fim da Idade Média, a prática da via-sacra se difundiu largamente. Isso acontece depois do meio-dia da sexta-feira e consiste numa peregrinação em catorze (ou quinze) estações.

O Sábado Santo é um dia “vazio”?

O Sábado Santo é o único dia do ano litúrgico em que não se realiza nenhum ofício coletivo, exceto a liturgia das horas, ou Ofício Divino das Comunidades. Nenhum sacramento é celebrado. É um dia de silêncio e de recolhimento, um dia de espera.
A Tradição o associa “à descida aos infernos”, particularmente presente na espiritualidade bizantina: o Cristo reúne os mortos que permaneceram longe de Deus, a começar por Adão e Eva, para associá-los à libertação iminente de sua ressurreição. O Sábado santo é também consagrado aos preparativos da Festa da Páscoa nas famílias e comunidades cristãs.

O que é celebrado na vigília pascal?

Na Páscoa – celebrada tanto na liturgia noturna do Sábado santo como no domingo da Páscoa –, a Igreja celebra a ressurreição de Jesus, sua “passagem” da morte à vida. Segundo a fé cristã, Deus não deixou seu Filho crucificado na cruz. “Deus o ressuscitou”, “Deus o glorificou”, “Deus o restabeleceu” da morte – estas são as palavras em grego utilizadas pelo Novo Testamento – quem deu a sua vida por amor ao seu Pai e aos homens.
Para os cristãos, essa vitória sobre a morte concerne toda a humanidade. “Pois sabemos: aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Jesus”, escreve Paulo aos Coríntios (2Cor 4, 14). Este anúncio de uma vida em abundância, mais forte que a morte, é a salvação, a “boa nova” festejada na Páscoa.
Orientações Litúrgicas para uma preparação Orante:
As orientações litúrgicas apontam todas para uma estreita relação entre a celebração da Missa da Ceia do Senhor e a Celebração da Paixão: "O Sacrário deve estar completamente vazio ao começar a celebração. Deverão ser consagrado nesta Missa as hóstias necessárias para a comunhão dos fiéis, e para que o clero e o povo possam comungar no dia seguinte... Para a reserva do Santíssimo... recomenda-se que não se perca de vista a sobriedade e austeridade que correspondem à Liturgia destes dias, evitando ou corrigindo qualquer forma de abuso... Com efeito a capela da reposição é preparada não para representar a "sepultura do Senhor", mas para guardar o pão eucarístico para a comunhão que será distribuída na Sexta-Feira na Paixão do Senhor".
A Missa da Ceia do Senhor nem tem bênção, nem despedida. E a Celebração da Paixão, não tem canto de entrada, nem saudação do Presidente. Os ritos iniciais são a procissão em silêncio e a prostração.

1) A Celebração da Paixão do Senhor deve celebrar-se numa hora entre as 12 e as 15 horas. Se motivos pastorais sérios aconselharem outra hora, nunca seja antes do meio-dia, nem depois das 21h (9 da noite). A adoração da Cruz é feita a uma única cruz e de forma pessoal. No caso excepcional de extraordinária concorrência de fiéis que impeça que o rito se desenrole de forma digna e em tempo conveniente, então, poder-se-á propor uma adoração colectiva. Nunca, entretanto, a adoração simultânea de várias cruzes . A celebração conclui com a oração sobre o povo, sem despedida.

2) Neste dia não se celebra a Eucaristia. E a comunhão aos fiéis, com exceção dos doentes ausentes, é distribuída apenas durante a celebração. É proibido, também, celebrar qualquer sacramento, com exceção da Penitência e da Unção dos doentes. No sábado não há Missa, nem comunhão aos doentes, a não ser o viático. É proibida a celebração do Matrimônio e de outros sacramentos, para além do Sacramento da Penitência e da Unção dos doentes.

3) O sábado santo (2º dia do Tríduo) é um dia cheio de grande significado. Não é o "sábado de aleluia", mas o sábado do repouso junto do túmulo do Senhor, em que a igreja medita na Paixão, na Morte e na descida à mansão dos mortos do seu Redentor e aguarda, no jejum e na oração, a sua Ressurreição. Para além da reunião da comunidade para a oração, não há qualquer outra celebração, a não ser o carácter do próprio dia.

4) A Vigília (3º dia do Tríduo) é o cume do Tríduo. Realiza-se integralmente de noite, "uma noite de vela em honra do Senhor". Não faz parte do sábado, nem é, nem pode ser substituída por uma missa vespertina. "Por isso não deve escolher-se uma hora tão cedo que ela comece antes do início da noite, nem tão tardia que termine depois da aurora do Domingo. Esta regra é de interpretação estrita. Qualquer abuso ou costume contrário... é de reprovar...". A celebração deve começar, quanto possível, fora da igreja, à volta de uma fogueira. O círio pascal deve ser de cera, novo em cada ano, nunca fictício. A entrada na igreja deve ser apenas iluminada pelo círio que todos seguem (Presidente, ministros e fiéis). A liturgia da Palavra consta de 7 leituras do Antigo Testamento e duas do Novo. Excepcionalmente, poderá reduzir-se o número das leituras do A.T., nunca abaixo de três e sem omitir a leitura do Êxodo 14. O ponto alto é a celebração da Liturgia Eucarística. Evite-se que seja apressada.

5) Finalmente, a Missa do domingo de Páscoa deve celebrar-se com a máxima solenidade
Bibliografia:
 RIGO, Enio José. Tempo Litúrgico. Série Litúrgica, São Paulo: Paulinas,2009.
 BERGAMINI, Augusto. Cristo, Festa da Igreja. O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994.
 BOROBIO, Dionisio. (org). A celebração na Igreja. São Paulo: Loyola, 1990.
 BECKHÄUSER, Alberto, OFM. Celebrar Bem. Petrópolis: Vozes, 2007.

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